quinta-feira, 30 de abril de 2015

SAÚDE DO ADOLESCENTE


SAÚDE DO ADOLESCENTE 

O Estado brasileiro não pode ignorar o espírito inovador e construtivo da juventude, nem tampouco a importância de sua contribuição para o desenvolvimento do país, o que exige, como um todo, a especial atenção e mobilização dos vários setores de políticas públicas e da sociedade civil para que os jovens tenham acesso a bens e serviços que promovam sua saúde e educação, melhorando, assim, a sua qualidade de vida. A importância demográfica do grupo de adolescentes, indivíduos na faixa etária de 10 a 19 anos, e sua vulnerabilidade aos agravos de saúde, bem como às questões econômicas e sociais nas suas vertentes de educação, cultura, trabalho, justiça, esporte, lazer e outros determinam a necessidade de atenção mais específica e abrangente. No entanto, os serviços que prestam assistência adequada às necessidades destes jovens são insuficientes, com acesso restrito, gerando uma demanda reprimida. Para tentar superar esta situação e estabelecer a assistência adequada às necessidades dos jovens, é necessário conhecer seus problemas e suas especificidades evolutivas, discutindo estratégias que se constituam como um conjunto de ações, integradas e intersetoriais, voltadas para o diagnóstico precoce, tratamento e recuperação e promoção à saúde, que lhes garantam uma assistência de forma integral, satisfatória e com resolubilidade. 
       O profissional de saúde e o cliente adolescente Para entendermos os adolescentes, faz-se necessário saber que “a adolescência é uma fase da vida do ser humano de profundas transformações físicas psicológicas e sociais. Conceitualmente, entende-se como adolescência a segunda década da vida, momento em que se estabelecem novas relações do adolescente com ele mesmo, nova imagem corporal, novas relações com o meio social, com a família e com outros adolescentes”. Nesta fase da vida ocorre a definição dos valores, resultando na tomada de decisões que influenciarão o resto da vida (manifestação sexual, carreira a seguir, projeto de vida, perspectivas, etc.). Considerando-se tal fato, para auxiliar as futuras opções dos adolescentes faz-se necessário colocar à sua disposição informações que contribuam positivamente para escolhas saudáveis, de modo que possam, entre outros adolescentes, tornar-se multiplicadores destas informações. Além disso, é preciso estimular a sua inserção nos serviços de saúde e em outros serviços de caráter intersetorial com a educação, esporte, lazer, por exemplo. Geralmente, há nos serviços de saúde um despreparo profissional e institucional para oferecer atendimento às necessidades específicas dessa clientela, além da falta de priorização dos adolescentes enquanto usuários. Consequentemente, as iniciativas de atenção ao adolescente restringem-se a um atendimento assistencialista/curativo, e não-educativo participativo. 
       A assistência à saúde do adolescente Para tentar modificar estas distorções no modelo de prestação de assistência, muitos avanços foram alcançados pelos profissionais e instituições de saúde. O maior deles foi a criação, em 1989, do PROSAD, o Programa de Atenção à Saúde do Adolescente, que propôs as alterações necessárias para o enfrentamento da problemática que atinge esse segmento populacional. As diretrizes do Programa de Saúde do Adolescente procuram atender as principais demandas desta parcela da população, com um enfoque integral as ações serão promovidas e efetuadas dentro do conceito de saúde proposto pela OMS como o “completo estado de bem- estar biopsíquico e social, e não apenas a ausência de enfermidades ou doenças”, constituindo-se como um conjunto de ações, integradas e intersetoriais, voltadas para o diagnóstico precoce, tratamento e recuperação e promoção à saúde para a melhoria dos níveis de saúde da adolescência e juventude. É importante dispor de uma equipe sensibilizada quanto à problemática dos adolescentes, se possível composta por profissionais de várias áreas, os quais devem trabalhar buscando reunir seus esforços, com objetivos comuns a serem atingidos. Os profissionais de saúde precisam estar capacitados a lidar com esta clientela, para realizar abordagens adequadas e que possibilitem um trabalho contínuo de educação em saúde, no qual o adolescente esteja envolvido não apenas como ouvinte, mas também possa intervir com sua criatividade e reflexão crítica e, assim, assimilar melhor os conteúdos. 
      Atenção ao crescimento e desenvolvimento Nas unidades de saúde, as atividades de acompanhamento do crescimento precisam de alguns elementos para serem desenvolvidos:  – conjunto de impressos adequado ao seu acompanhamento - como poucas unidades de saúde possuem atendimento específico para adolescentes, os prontuários terminam sendo adaptados para serem utilizados por estes clientes. É importante que a para os adolescentes, elabore instrumentos mais adequados à identificação dos aspectos a serem observados, relevantes para determinar suas condições de vida e saúde; – conteúdo padronizado de atividades relativas ao adolescente - com a implantação do PROSAD, espera-se que os serviços de saúde que prestam assistência ao adolescente trabalhem com prioridades semelhantes, adequando-se ao perfil epidemiológico dos adolescentes atendidos, e estruturem seus serviços de forma a atender oportunamente as necessidades dessa clientela. Os procedimentos realizados devem envolver os esforços de toda a equipe, de modo a garantir a obtenção regular de dados sobre o crescimento e desenvolvimento; o registro das informações, interpretadas segundo parâmetros estabelecidos; busca de fatores causais para eventuais distúrbios detectados; e manutenção das atividades de forma a intervir, quando necessário, sobre os fatores capazes de atingir o crescimento e desenvolvimento. 
Sexualidade e saúde reprodutiva Na adolescência, ocorrem as mudanças físicas que transformam a menina em mulher e o menino em homem. Este fenômeno se chama puberdade e ocorre, em geral, entre os 10 e 14 anos, no sexo masculino, e entre os 9 e 13 anos, no feminino. Nesta fase, o corpo desenvolve plenamente os órgãos que garantirão suas funções reprodutivas. O despertar para a sexualidade intensifica-se na adolescência, com a descoberta do próprio corpo e de novos sentimentos como amor e paixão, carinho, beijos e toques e a descoberta do outro como importante e significativo. O início do ciclo menstrual e da primeira ejaculação, associados a todas as mudanças percebidas pelos adolescentes, geram uma série de sensações e dúvidas. Portanto, neste período é importante estabelecer o diálogo, oferecendo informações que esclareçam todas estas transformações e ações educativas que propiciem aos adolescentes participação ativa nas reflexões e discussões sobre o que lhes acontece. Caso contrário, podem desenvolver sua sexualidade com culpa, medo ou vergonha.
       Os profissionais que realizam atendimento aos adolescentes devem conhecer os fatores associados à expressão da sexualidade e à ocorrência de problemas nesta área. Assim, será possível planejar ações junto aos adolescentes, na unidade de saúde ou na comunidade (associações de moradores, escolas, clubes, igrejas), desenvolvendo atividades educativas que busquem esclarecer as dúvidas mais comuns relativas aos aspectos da adolescência (sexualidade, trabalho, estudo, relacionamento com os pais, alimentação, cuidados com o corpo, etc.), para que esta fase não resulte em repercussões negativas, físicas ou psicossociais. Há algumas décadas, levantamentos realizados vêm apontando diminuição nas taxas de fecundidade em todas as faixas etárias. A única exceção ocorre entre as adolescentes, com maior percentual entre aquelas que têm de 15 a 19 anos de idade – o que talvez possa ser explicado pelo fato de que apenas 54,1 destas jovens utilizam algum método contraceptivo, e que muitas o façam de forma incorreta. Entre 1993 e 1998, observou-se um aumento de 31% no percentual de parto de meninas de 10 a 14 anos atendidas na rede do SUS. Em 1998, mais de 50 mil adolescentes foram atendidas em hospitais públicos para curetagem pós-aborto, sendo que quase três mil delas tinham de 10 a 14 anos. É bem verdade que nem sempre as gestações na adolescência são indesejadas, o que indica outra questão a ser enfrentada.  Muitas jovens engravidam em função de um problema social, que é a falta de perspectiva de vida, baixa autoestima e problemas familiares, como se a gestação pudesse lhes tornar adultas e independentes mais cedo. Em todo o mundo diariamente, mais de sete mil jovens – cinco por minuto – são infectados pelo HIV, perfazendo um total de 2,6 milhões por ano, o que representa a metade de todos os casos registrados. Estima-se que 10 milhões de adolescentes vivem hoje com o HIV ou estão propensos a desenvolver a Aids nos próximos anos. Aproximadamente, 80% das transmissões do HIV decorrem do sexo desprotegido; e sabemos que o adolescente preocupa-se mais em evitar a gravidez do que em prevenir as DST/Aids. O ideal seria que sempre usassem o preservativo (masculino ou feminino), que lhes proporciona essa dupla proteção. Os profissionais de saúde devem estar preparados e sensibilizados para prestar aconselhamentos a adolescentes de ambos os sexos, de forma que a manifestação da sexualidade seja discutida de modo responsável e amadurecido. Se nessa discussão for detectado algum distúrbio físico ou psicológico, deve- se proceder o encaminhamento dos jovens aos serviços que atendem adolescentes e, se necessário, aos serviços ligados ao Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) ou aos serviços de DST/Aids. 
       Saúde do escolar adolescente A entrada do adolescente no mercado de trabalho ocorre cada vez mais cedo. Há cerca de 10 anos, em torno de 17% dos jovens entre 10 e 14 anos e 57% de jovens entre 15 e 19 anos já faziam parte da população economicamente ativa. Resultados da Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde (PNDS)29 mostram que aproximadamente 51% das mulheres de 15 a 19 anos e sem escolarização haviam se tornado mães, e que quase 5% estavam grávidas do primeiro filho. Entre as mulheres com 9 a 11 anos de estudo, essas proporções correspondem a 4% e 2%, respectivamente, o que indica, nas mulheres mais jovens, uma correlação negativa entre escolaridade e fecundidade. A mesma pesquisa aponta que 13% das mulheres de 15 a24 anos, alguma vez unidas, declaram abandonar a escola por ficar grávida, casar ou ter de cuidar dos filhos. Isso possibilita a hipótese de que existe causalidade nos dois sentidos da relação entre maternidade e educação. A causalidade no sentido inverso, ou seja, a maternidade afetando a vida educacional das mulheres, parece ser muito mais direta. Os ônus relacionados à maternidade dificultariam o progresso da escolarização das mães, afetando a inserção exitosa no mercado de trabalho, colaborando, assim, para a continuidade do ciclo de pobreza com todas as más consequências para a qualidade de vida dessas jovens. Os homens adolescentes, também, carregam o ônus de uma gravidez não planejada quando assumem a paternidade sem estrutura econômica e às vezes emocional para cuidar e educar um filho. Como cerca de 14,45% dos jovens entre 10 e 14 anos e 9,42% dos jovens entre 15 e 19 anos são analfabetos, estes dados significam, em muitos casos, evasão escolar, aumento do subemprego, baixa remuneração e, ainda, exposição do adolescente ao risco de sofrer acidentes de trabalho, sem qualquer garantia de benefícios legais. Principalmente nas grandes cidades, cresce o risco de estes jovens tomarem o tortuoso caminho da criminalidade, acrescentando mais dados aos já tão altos índices de violência. Dessa maneira, faz-se necessário um esforço conjunto dos setores saúde, educação, segurança pública, assistência social, entre outros, no sentido de manter os jovens envolvidos nas atividades escolares.
       É importante que a escola e as unidades de saúde estejam integradas para que se possa utilizar o espaço escolar a fim de promover atividades de educação e saúde, como discussões sobre uso de drogas, prevenção de DST e gravidez, e para discutir meios de melhorar a aprendizagem do aluno adolescente, oferecendo, também, suporte nas questões ligadas à saúde mental e bucal, por exemplo. Prevenção da violência e de mortes por causas externas No Brasil, a violência atinge toda a população, havendo pouca distinção entre classes, cor ou sexo. Entre os jovens, porém, seus níveis têm se mostrado cada vez mais elevados, revelando a necessidade da proteção da saúde do adolescente e a urgência na elaboração de políticas intersetoriais que afastem os jovens da violência. O consumo de bebidas alcoólicas e de outras drogas ilícitas é uma das principais causas de acidentes, suicídio, violência, gravidez não-planejada e transmissão de doenças por via sexual.  A maior causa de morte entre adolescentes são as causas externas, as quais compreendem principalmente acidentes, homicídios e suicídios. A violência entre os jovens também se manifesta sob a forma de maus-tratos, violência sexual, exploração sexual ou uso de drogas. Qualquer tipo de violência pode ocorrer no trabalho ou no dia-a-dia e, por mais absurdo possa parecer, é também no ambiente familiar que adolescentes e crianças sofrem maus-tratos e violência física, psicológica ou sexual. A violência física e psicológica, muitas vezes, é usada pelos responsáveis com o pretexto de educar ou corrigir, e geram traumas que podem acompanhar o adolescente pelo resto de sua vida. Além de atuarmos junto à sociedade prevenindo a ocorrência da violência doméstica, devemos estar atentos para detectar os sinais de maus-tratos, para realizarmos os devidos encaminhamentos, utilizando os meios disponíveis na realidade local. No tocante aos acidentes, ocorrem principalmente entre os adolescentes do sexo masculino, na grande maioria com veículos a motor. Para explicar tal ocorrência são apontadas características de personalidade dos adolescentes (curiosidade, irreverência, contestação), interações de fatores psicológicos e sociais, como a influência do grupo com o qual o jovem convive, a baixa aplicabilidade das leis de trânsito, favorecendo a ideia de impunidade, e as deficiências do sistema viário. Partindo-se da ideia de que todo acidente pode ser evitado, deve-se atuar para prevenir sua ocorrência. Esta ação depende dos esforços de profissionais de várias áreas; enquanto profissionais de saúde, devemos, com os jovens e seus responsáveis, realizar trabalhos de educação em saúde divulgando a importância da segurança no trânsito. Outro grave problema a ser enfrentado é o uso de drogas. Todas as formas de violência geram um terrível impacto sobre a vida do adolescente e de sua família. No entanto, a dependência de drogas aproxima ainda mais o jovem de situações que o expõem à violência, pela própria ilegalidade do tráfico de drogas e dos meios que o jovem se utiliza para obter a droga que consome.  Em pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde (1996), verificou-se que 80,5% dos adolescentes já consumiram bebida alcoólica, 28% já fumaram cigarros de tabaco e 22,8% já usaram algum tipo de droga ilícita. Estes mesmos estudos apontam que a maior incidência de uso de drogas acontece entre adolescentes que trabalham e estudam, estão atrasados nos estudos em 3 anos ou mais ou têm pais separados ou falecidos, podendo estar presente mais de uma destas situações. Estes dados nos ajudam a perceber o quanto os determinantes sociais podem vir a influenciar as condições de saúde dos adolescentes. Diante destas afirmativas, o profissional de saúde deve valorizar cada contato com o adolescente e sua família, seja na unidade de saúde ou comunidade, a fim de identificar precocemente condições que o levariam a se tornar um usuário de drogas ilícitas ou mesmo lícitas, para tentar intervir sobre estas condições mediante um trabalho de orientação em saúde e fornecimento de apoio psicológico e emocional. Estas ações também devem acontecer junto à escola, com captação e troca de informações sobre as condutas a serem adotadas para a prevenção do uso de drogas entre os jovens.  
       A família do adolescente A família é um núcleo da comunidade onde nossa atuação pode ser muito produtiva. Muitos problemas dos adolescentes têm origem nesse contexto e quando conseguimos detectar e intervir junto a esses fatores a família, muitas vezes, torna-se elemento facilitador para o êxito das ações. As famílias apresentam-se de várias maneiras, às vezes distantes do ideal por nós idealizado. O importante é nos despirmos dos preconceitos e aproveitarmos as oportunidades, procurando, sempre que possível, envolvê-las nas atividades desenvolvidas com o adolescente.

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